segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

RESENHA 1 - MICHEL LOWY - CIÊNCIA POLÍTICA


 Resenha: “LOWY, Michael. “Introdução” in as Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. 3.edição. São Paulo, Busca Vida, (pp,9/13), 1988.
Aluna: Jordania Marcia Carvalho Leal
Período: Matutino
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Parte a – visões sociais de mundo, ideologia e utopias no conhecimento científico - social:
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No texto o autor começa fazendo várias indagações, a respeito de tornar possível a objetividade na ciência, se o modelo científico - natural é operacional para as ciências históricas, se é concebível uma ciência da sociedade livre de julgamento de valor e pressupostos político – sociais, se é possível eliminarmos as ideologias do processo de conhecimento científico social, se a ciência social não é ligada ao ponto de vista de uma classe ou grupo social, e por fim se é possível conciliar esse caráter partidário com o conhecimento objetivo da verdade, enfim ele quer dissecar as ciências sociais e suas teorias de que é possível ou não, observarmos a sociedade, fazendo parte dela e não interferir subjetivamente com nosso ou de nosso grupo os ideais sejam eles políticos, de valores entre outros.
Ele ainda afirma que questões como essas estão nas discussões e debates metodológico e epistemológico, no conjunto das ciências sociais modernas, da sua origem no século XIX quando nasceu até os dias atuais, tentativas de encontrarmos respostas coerentes para respondermos a essas perguntas, nos remete a três correntes de pensamento: o positivismo, o historicismo e o marxismo.
Esse complexo de busca por uma resposta nos apresenta oposição ou articulação entre dois universos: a ideologia e a ciência.
Existem poucos conceitos referentes às ciências sociais e a ideologia, entretanto, recheadas de paradoxos, ambiguidades, contra sensos e equívocos.
O termo ideologia foi inventado em sua origem pelo conde de Tracy, que publicou em 1801, um tratado, Elementos de ideologia, apresentando esta nova ciência das idéias, que foi posteriormente utilizado de maneira empirista e científico – naturalista, nascendo, pois o positivismo. Napoleão Bonaparte os tratou como “ideólogos”, termo este equivalente a metafísicos abstratos, ou seja, fora da realidade. Assim esse novo significa entrar no vocabulário corrente, e somente na metade do século XIX é que Karl Marx retomará a ideologia, mas agora com outro conceito.
Para Marx, a ideologia é uma forma de falsa consciência, que corresponde aos interesses da classe dominante: que é a burguesia. A ideologia representa o conjunto de idéias especulativas e ilusórias (socialmente determinadas) que os homens formam sobre a realidade, através da moral, da religião, da metafísica, dos sistemas filosóficos, das doutrinas políticas e econômicas, etc. Para outros marxistas do século XX, por exemplo, Lenin, a ideologia representa o conjunto das concepções de mundo ligadas às classes sociais, incluindo o marxismo. Dessa forma, o termo passa a fazer parte da linguagem dos militantes marxistas (“luta ideológica”, “ideologia revolucionária”, “formação ideológica”, tec.).
Com a obra de Karl Mannheim, o sentido leninista de ideologia, ganha legitimidade na sociologia universitária, através do conceito de “ideologia total”, definida como a estrutura categorizada, a perspectiva global, o estilo do pensamento ligado a uma posição social. Entretanto, no mesmo livro (Ideologia e utopia, 1929), Mannheim atribui outro significado ao mesmo termo: ideologia designa nesta acepção os sistemas de representação que se orientam na direção da estabilização e da reprodução da ordem vigente – em oposição ao conceito de utopia, que define as representações, aspirações e imagens – de – desejo que se orientam na direção da ruptura da ordem estabelecida e que exercem uma função subversiva.
A partir daí o autor conclui que confusão e ambivalência são quase completas, entre os pensadores de diferentes correntes, ocorre na mesma corrente teórica e ainda numa mesma obra, e neste último caso o cientista social é considerado grande clássico do conhecimento moderno do século XX. As mesmas palavras também têm significações diferentes, às vezes significações contraditórias, e sem a maior justificativa, portanto quando definirmos alguma palavra tem que nos direcionar ao autor, ao contexto histórico, a teoria ou a gramática utilizada, para que não façamos uso incorreto. Muitas vezes, sociólogos, filósofos, por terem abertura de trabalhar as definições, podem de repente atribuir significados totalmente diferentes das que estamos acostumados, por exemplo, o autor diz sobre definir a ideologia do ponto de vista de estados de consciência ligado a ação política, através de uma decisão arbitrária, contrariando a teoria marxista.
Então, Lowy propõe uma linha de raciocínio da obra de Mannheim, considerando que depois de Karl Marx, esta seria uma conceituação séria sobre a ideologia (em oposição à utopia). Em Manheim, “o pensamento utópico é o que aspira a um estado não existente das relações sociais, é o sonho imaginário irrealizável, inoperante, uma vez que somente o futuro permite que se saiba qual aspiração era ou não irrealizável.” E um termo que conceitua tanto ideologia como utopia, Mannheim define como “ideologia total”, dessa maneira depois de confundir e gerar confusão o autor chega a conclusão de que Mannheim vê a ideologia total como visão social de mundo. Dois aspectos convêm explicitar:
1 – Trata-se de um conjunto relativamente coerente de idéias sobre o homem, a sociedade, a história, e sua relação com a natureza (e não sobre os cosmos ou a natureza enquanto tais);
2 – Trata-se aos interesses e a situação de certos grupos e classes sociais.
As visões de mundo podem ser ideologias como, por exemplo, o liberalismo burguês no século XIX, ou utopias (o quiliasmo de Thomas Münzer), elas podem combinar elementos ideológicos e utópicos, por exemplo, a filosofia Iluminista; e ainda uma visão de mundo pode ser utópica e depois tornar-se ideologia num outro momento, como por exemplo, o positivismo e algumas formas do marxismo.
Concluindo o autor, observa que a objetividade nas ciências não é construída no molde científico-natural, e nem como os positivistas afirmavam, ele diz que todo conhecimento e interpretação da realidade social estão ligados, direta ou indiretamente a uma das grandes visões sociais de mundo, a uma perspectiva global socialmente condicionada, isto é, o que Pierre Bourdieu salienta em sua frase “as categorias de pensamento impensadas que delimitam o pensável e predeterminam o pensamento”.



                

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Parte B – OPINIÃO Da ALUNa: jORDANIA MARCIA CARVALHO LEAL
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            O texto aborda as perturbações que rondam as referidas ciências sociais, desde o seu surgimento que ocorreu por volta do século XVIII, com o caos social, epidemias, entre outros problemas ocasionados pela Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
 Com a transição do feudalismo para o modo de produção capitalista, a sociedade apresentou terríveis transformações, observando o contexto histórico, percebemos que pensadores como Hegel, Karl Marx, Max Weber, Auguste Comte, Durkheim entre outros, tinham na vida real todo o aparato para fazer valer suas notáveis descobertas, visto que se tratava de excepcionais gênios intelectuais, no início com o intuito de transformação e revolução da sociedade para melhor, estes pensadores, formularam suas teorias marxistas, positivistas, historicistas.
Convém voltarmos atrás para falarmos sobre toda a história que permeia o campo científico, então, tudo começa na Grécia, esses pensadores são clássicos, cientistas sociais e filósofos. A filosofia surge na Grécia, mas precisamente em Atenas, onde cidadãos intelectuais da Grécia que faziam parte de diversas colônias resolveram se unir em Atenas, surgindo assim, a pólis (cidade), onde estes se reuniam para debates e discussões sobre as questões de conflitos da cidade. Aqui a mitologia, as artes, tudo representava as decisões dos filósofos, Homero e Hesíodo são os principais historiadores mitológicos da pólis; Homero representa em Ilíada e Odisséia a interferência dos deuses sobre os homens, já Hesíodo apresenta tragédias em que o os deuses afastaram dos homens, portanto estes, se esforçarem podem se tornar virtuosos e fazer parte dos filósofos da  pólis.
 Zenão de Eléia (Itália) (488-430 a.C.), discípulo de Parmênides, filósofo pré-socrático da escola eleática, foi o primeiro a fazer referência  a dialética, portanto seu fundador. Depois, foi Hegel quem retomou a dialética que posteriormente será a base do desenvolvimento da teoria marxista conhecida como Materialismo Histórico ou Materialismo Dialético, desenvolvido por Karl Marx.
Na Idade Média ou Medieval, também conhecida como a idade das trevas é dominada pela influência da Igreja Católica, nesse período os padres nos mosteiros escondiam textos escritos pelos filósofos e traduzia de maneira que não contrariassem a religião cristã – o Cristianismo. O modo de produção era o feudalismo. No século XIV com o advento do Renascimento, retomada dos textos clássicos da antiguidade, com um caráter humanista e naturalista, ocorre na Itália um movimento de pensadores como Leonardo da Vinci, Miguelangelo, que fazem parte da cultura renascentista, o antropocentrismo, o individualismo, o racionalismo, começam a fazer parte da vida dos intelectuais, deixando para trás o teocentrismo (Deus como centro de todas as coisas). Maquiavel renascentista italiano contribuiu para ciência política, com o livro O Príncipe, podemos retirar a política como ciência, conceituação: política é coisa mundana, coisa para homens, Deus não pode fazer parte da política, porque as coisas de Deus não podem ser contestadas, são dogmas, a política tem que ser discutida pelos homens, este florentino se via diante de uma Itália dilacerada, a política era um mosaico, governavam a Itália a Igreja Católica, franceses, espanhóis, então o desejo de Maquiavel é que a Itália se torne uma República, um único Estado nação, no mesmo livro ele fala sobre as coisas como elas são e não como gostaríamos que fosse, portanto define política como ciência com objetividade, através de fatos históricos reais, separa política de religião, o tripé: virtude, fortuna e força, são respectivamente sapiência (sabedoria, inteligência...); sorte no sentido de oportunidades; uso da força quando necessário, alguns interpretadores dizem que ele escreveu o livro para o povo, outros dizem que foi para o governante (príncipe), a expressão maquiavélico, vem de sua personalidade de escrita, alguns os considera mal, foca no indivíduo, o homem para Maquiavel é mal por natureza, a frase “os fins justificam os meios”, alguns interpretadores dizem que foi Maquiavel que disse, eu compartilho que foi Napoleão Bonaparte e não Maquiavel. Já neste caso, podemos citar a preocupação de Lowy, em definição, isto é, conceituação de política para Maquiavel, por exemplo, é diferente do conceito de política para Hanna Arendt, para ela política está entre os homens, na pluralidade dos homens, de origem judaica, que sofreu com o nazismo de Adolf Hitler, liberdade para ela, é de suma importância, porque neste caso ela não podia falar, senão era metralhada pelos nazistas, portanto outro contexto histórico, e outra definição, o filme “O Leitor”, mostra essa época e fala sobre o que é obedecer a uma ordem, para Hanna Arendt devemos pensar antes de obedecê-las, mas para o contexto histórico, o medo faz com que todos obedeçam sem questionamentos, porque é a vida que está em jogo, falo em ciência política também por saber este conhecimento fazer parte das ciências sociais, juntamente com a sociologia e a antropologia.
O Direito outra ciência social, foi na Idade Média modificada para Direito Canônico, já não fazia efeito com o novo modo de produção, normas jurídicas do comportamento social, que estabeleciam direitos e obrigações entre as partes da sociedade, tiveram que ser transformadas. Para Marx, o Direito era uma ciência temporária, visto que o Direito existia por causa do Estado, e conforme sua tese, o capitalismo se evoluiria para o socialismo e depois para o comunismo, onde haveria a ausência do Estado, e, portanto, a ausência do Direito. Para Karl Marx o Estado era opressor e representava a classe dominante burguesa, para Hegel o mesmo Estado era libertador. O Direito faz parte na teoria marxista da superestrutura, fundamentada nas condições econômicas, portanto mudando-se a infraestrutura (estrutura econômica) mudaria a superestrutura jurídica, política, moral e simbólica da sociedade. Para Hegel a superestrutura que governava a infraestrutura, para Marx, mesmo sendo um neo-hegeliano, mas influenciado também pelas idéias de Ludwig Feuerbach chega à conclusão de quê é a infraestrutura, as bases materiais que comandam a superestrutura (o campo das idéias: direito, religião, política...), utiliza-se do método histórico para chegar à tese do determinismo econômico, aqui se utiliza da dialética que é o movimento: tese – antítese – síntese; quando temos uma tese, trabalha-se nesta apresentando através de críticas sólidas uma antítese que criará uma síntese, esta é a nova tese; na teoria marxista o modo de produção é responsável pelas relações sociais, ela influencia a maneira de como a sociedade se relaciona, Marx vê a sociedade como um todo, separa as classes sociais somente em duas partes: os burgueses e o proletariado, para ele a força de trabalho é uma mercadoria, então o homem vende a sua força de trabalho, o homem já não é mais dono de si mesmo; para Adam Smith a força do trabalho produz a riqueza, no livro riqueza das nações, para Karl Marx a mais valia, o lucro, é que produz a riqueza e ela é principalmente acumulada pelo força do trabalho humano, tudo que tem preço é mercadoria, portanto a força de trabalho humano é mercadoria e seu preço e pago através de salário, para Adam Smith a mão invisível, ajeitavam os desiquilíbrios no capitalismo, para Marx, não existe mão invisível e sim uma regulação.
Os positivistas, August Comte, Durkheim criticam os socialistas, por esse pensamento materialista, para eles o importante é a ordem e o progresso, aqui a ciência social, é objetiva, tem método e não há julgamento de valor, mesmo que seja o próprio homem fazendo o estudo. Durkheim fala sobre o suicídio que ocorre devido às questões sociais, apesar de apresentar resultados com reflexões sobre países mais ricos onde ocorre maior índice de suicídio do que nos países pobres, mas a questão não é material e sim moral. O fato social é a maneira de agir, fixa ou não, porque a sociedade tanto pode ser de uma época, como pode ser a sociedade dinâmica em transformação, o fato é exterior ao indivíduo, é coercitivo e tem generalidade, o cientista social foca na sociedade como um todo, o fato é coercitivo, mas ao mesmo tempo a sociedade deseja essa moral, e é decidida pela maioria dos participantes da sociedade, neste trabalho fala sobre a divisão social do trabalho, a solidariedade mecânica e orgânica.
Max Weber parte da teoria do tipo ideal, foca no indivíduo, para Weber há uma questão valorativa do cientista até mesmo na hora de se escolher um assunto a ser investigado, a ele se deve os três tipos puros de dominação: legal, carismática e tradicional e em cada uma define como será a forma de poder político. A estratificação social em Weber é diferente de Marx, para Weber as classes sociais faz uma distinção entre as três dimensões da sociedade: a ordem econômica, representada pela classe, a ordem social, pelo status ou “estado”, e a ordem política, pelo partido.
E se tivermos que reconhecer os pensadores e clássicos através de suas correntes, seja ela filosófica ou ideológica, não é uma tarefa simples, por exemplo, diferenciá-los como liberais, iluministas, evolucionistas, progressistas, historicistas, positivistas, socialistas, marxistas, naturalista entre outros, pode-nos confundir, cria-nos confusão, assim como no conceito de ideologia e utopia em Lowy, as ciências sociais, diferente das ciências exatas, onde podemos partir de vários métodos, mas o resultado, a solução é a mesma; aqui nas ciências sociais é diferente, bem mais difícil e trabalhoso, pois, podemos partir de vários assuntos, teses e ainda chegaremos em uma infinidade de perguntas, e não de soluções; os cientistas sociais contemporâneos fazem uma análise dos grupos existentes na sociedade, fazendo o trabalho sem julgamento de valores, segundo informações, hoje já não se preocupa como no século XVIII, XIX e XX em buscar transformações, revoluções para melhor, mas tão somente em interpretar os grupos.
Logo a “ideologia total”, ou seja, a “visão social de mundo”, por Mannheim no texto de Lowy, representa em minha opinião, ter determinação o suficiente para estudar, investigar cada uma dessas correntes e também a preocupação em apreender dos pensadores os conceitos que suas teorias apresentam como foi dito na sala de aula, cuidado com a aparência, ir profundamente para buscar a essência do trabalho, o todo X particular, tem que haver interesse pelo todo, mas com objetividade e radicalidade tentar chegar ao particular, para não ficar na aparência, e principalmente historicidade, é incrível como contexto histórico fala, grita os que os pensadores querem dizer, antes de começar a estudar, situar o pensador em seu contexto histórico.


Fim.

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