Resenha:
“LOWY, Michael. “Introdução” in as Aventuras de Karl Marx contra o Barão de
Münchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. 3.edição.
São Paulo, Busca Vida, (pp,9/13), 1988.
Aluna:
Jordania Marcia Carvalho Leal
Período:
Matutino
Parte a – visões sociais de mundo, ideologia e utopias no conhecimento
científico - social:
No texto o autor
começa fazendo várias indagações, a respeito de tornar possível a objetividade
na ciência, se o modelo científico - natural é operacional para as ciências históricas,
se é concebível uma ciência da sociedade livre de julgamento de valor e
pressupostos político – sociais, se é possível eliminarmos as ideologias do
processo de conhecimento científico social, se a ciência social não é ligada ao
ponto de vista de uma classe ou grupo social, e por fim se é possível conciliar
esse caráter partidário com o conhecimento objetivo da verdade, enfim ele quer
dissecar as ciências sociais e suas teorias de que é possível ou não, observarmos
a sociedade, fazendo parte dela e não interferir subjetivamente com nosso ou de
nosso grupo os ideais sejam eles políticos, de valores entre outros.
Ele ainda afirma que
questões como essas estão nas discussões e debates metodológico e
epistemológico, no conjunto das ciências sociais modernas, da sua origem no
século XIX quando nasceu até os dias atuais, tentativas de encontrarmos
respostas coerentes para respondermos a essas perguntas, nos remete a três
correntes de pensamento: o positivismo, o historicismo e o marxismo.
Esse complexo de
busca por uma resposta nos apresenta oposição ou articulação entre dois
universos: a ideologia e a ciência.
Existem poucos
conceitos referentes às ciências sociais e a ideologia, entretanto, recheadas
de paradoxos, ambiguidades, contra sensos e equívocos.
O termo ideologia foi
inventado em sua origem pelo conde de Tracy, que publicou em 1801, um tratado,
Elementos de ideologia, apresentando esta nova ciência das idéias, que foi
posteriormente utilizado de maneira empirista e científico – naturalista, nascendo,
pois o positivismo. Napoleão Bonaparte os tratou como “ideólogos”, termo este
equivalente a metafísicos abstratos, ou seja, fora da realidade. Assim esse
novo significa entrar no vocabulário corrente, e somente na metade do século
XIX é que Karl Marx retomará a ideologia, mas agora com outro conceito.
Para Marx, a
ideologia é uma forma de falsa consciência, que corresponde aos interesses da
classe dominante: que é a burguesia. A ideologia representa o conjunto de
idéias especulativas e ilusórias (socialmente determinadas) que os homens
formam sobre a realidade, através da moral, da religião, da metafísica, dos
sistemas filosóficos, das doutrinas políticas e econômicas, etc. Para outros
marxistas do século XX, por exemplo, Lenin, a ideologia representa o conjunto
das concepções de mundo ligadas às classes sociais, incluindo o marxismo. Dessa
forma, o termo passa a fazer parte da linguagem dos militantes marxistas (“luta
ideológica”, “ideologia revolucionária”, “formação ideológica”, tec.).
Com a obra de Karl
Mannheim, o sentido leninista de ideologia, ganha legitimidade na sociologia
universitária, através do conceito de “ideologia total”, definida como a
estrutura categorizada, a perspectiva global, o estilo do pensamento ligado a
uma posição social. Entretanto, no mesmo livro (Ideologia e utopia, 1929),
Mannheim atribui outro significado ao mesmo termo: ideologia designa nesta
acepção os sistemas de representação que se orientam na direção da
estabilização e da reprodução da ordem vigente – em oposição ao conceito de
utopia, que define as representações, aspirações e imagens – de – desejo que se
orientam na direção da ruptura da ordem estabelecida e que exercem uma função
subversiva.
A partir daí o autor
conclui que confusão e ambivalência são quase completas, entre os pensadores de
diferentes correntes, ocorre na mesma corrente teórica e ainda numa mesma obra,
e neste último caso o cientista social é considerado grande clássico do
conhecimento moderno do século XX. As mesmas palavras também têm significações
diferentes, às vezes significações contraditórias, e sem a maior justificativa,
portanto quando definirmos alguma palavra tem que nos direcionar ao autor, ao
contexto histórico, a teoria ou a gramática utilizada, para que não façamos uso
incorreto. Muitas vezes, sociólogos, filósofos, por terem abertura de trabalhar
as definições, podem de repente atribuir significados totalmente diferentes das
que estamos acostumados, por exemplo, o autor diz sobre definir a ideologia do
ponto de vista de estados de consciência ligado a ação política, através de uma
decisão arbitrária, contrariando a teoria marxista.
Então, Lowy propõe
uma linha de raciocínio da obra de Mannheim, considerando que depois de Karl
Marx, esta seria uma conceituação séria sobre a ideologia (em oposição à
utopia). Em Manheim, “o pensamento utópico é o que aspira a um estado não
existente das relações sociais, é o sonho imaginário irrealizável, inoperante,
uma vez que somente o futuro permite que se saiba qual aspiração era ou não
irrealizável.” E um termo que conceitua tanto ideologia como utopia, Mannheim
define como “ideologia total”, dessa maneira depois de confundir e gerar
confusão o autor chega a conclusão de que Mannheim vê a ideologia total como
visão social de mundo. Dois aspectos convêm explicitar:
1 – Trata-se de um
conjunto relativamente coerente de idéias sobre o homem, a sociedade, a história,
e sua relação com a natureza (e não sobre os cosmos ou a natureza enquanto
tais);
2 – Trata-se aos
interesses e a situação de certos grupos e classes sociais.
As visões de mundo
podem ser ideologias como, por exemplo, o liberalismo burguês no século XIX, ou
utopias (o quiliasmo de Thomas Münzer), elas podem combinar elementos
ideológicos e utópicos, por exemplo, a filosofia Iluminista; e ainda uma visão
de mundo pode ser utópica e depois tornar-se ideologia num outro momento, como
por exemplo, o positivismo e algumas formas do marxismo.
Concluindo o autor,
observa que a objetividade nas ciências não é construída no molde
científico-natural, e nem como os positivistas afirmavam, ele diz que todo
conhecimento e interpretação da realidade social estão ligados, direta ou
indiretamente a uma das grandes visões sociais de mundo, a uma perspectiva
global socialmente condicionada, isto é, o que Pierre Bourdieu salienta em sua
frase “as categorias de pensamento impensadas que delimitam o pensável e
predeterminam o pensamento”.
Parte B – OPINIÃO Da ALUNa: jORDANIA MARCIA CARVALHO LEAL
O texto aborda as perturbações que
rondam as referidas ciências sociais, desde o seu surgimento que ocorreu por
volta do século XVIII, com o caos social, epidemias, entre outros problemas
ocasionados pela Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
Com a transição do feudalismo para o modo de
produção capitalista, a sociedade apresentou terríveis transformações,
observando o contexto histórico, percebemos que pensadores como Hegel, Karl
Marx, Max Weber, Auguste Comte, Durkheim entre outros, tinham na vida real todo
o aparato para fazer valer suas notáveis descobertas, visto que se tratava de
excepcionais gênios intelectuais, no início com o intuito de transformação e
revolução da sociedade para melhor, estes pensadores, formularam suas teorias
marxistas, positivistas, historicistas.
Convém voltarmos
atrás para falarmos sobre toda a história que permeia o campo científico,
então, tudo começa na Grécia, esses pensadores são clássicos, cientistas
sociais e filósofos. A filosofia surge na Grécia, mas precisamente em Atenas,
onde cidadãos intelectuais da Grécia que faziam parte de diversas colônias
resolveram se unir em Atenas, surgindo assim, a pólis (cidade), onde estes se
reuniam para debates e discussões sobre as questões de conflitos da cidade.
Aqui a mitologia, as artes, tudo representava as decisões dos filósofos, Homero
e Hesíodo são os principais historiadores mitológicos da pólis; Homero
representa em Ilíada e Odisséia a interferência dos deuses sobre os homens, já
Hesíodo apresenta tragédias em que o os deuses afastaram dos homens, portanto
estes, se esforçarem podem se tornar virtuosos e fazer parte dos filósofos
da pólis.
Zenão de Eléia (Itália) (488-430 a.C.),
discípulo de Parmênides, filósofo pré-socrático da escola eleática, foi o
primeiro a fazer referência a dialética,
portanto seu fundador. Depois, foi Hegel quem retomou a dialética que
posteriormente será a base do desenvolvimento da teoria marxista conhecida como
Materialismo Histórico ou Materialismo Dialético, desenvolvido por Karl Marx.
Na Idade Média ou
Medieval, também conhecida como a idade das trevas é dominada pela influência
da Igreja Católica, nesse período os padres nos mosteiros escondiam textos
escritos pelos filósofos e traduzia de maneira que não contrariassem a religião
cristã – o Cristianismo. O modo de produção era o feudalismo. No século XIV com
o advento do Renascimento, retomada dos textos clássicos da antiguidade, com um
caráter humanista e naturalista, ocorre na Itália um movimento de pensadores
como Leonardo da Vinci, Miguelangelo, que fazem parte da cultura renascentista,
o antropocentrismo, o individualismo, o racionalismo, começam a fazer parte da
vida dos intelectuais, deixando para trás o teocentrismo (Deus como centro de
todas as coisas). Maquiavel renascentista italiano contribuiu para ciência
política, com o livro O Príncipe, podemos retirar a política como ciência,
conceituação: política é coisa mundana, coisa para homens, Deus não pode fazer
parte da política, porque as coisas de Deus não podem ser contestadas, são
dogmas, a política tem que ser discutida pelos homens, este florentino se via
diante de uma Itália dilacerada, a política era um mosaico, governavam a Itália
a Igreja Católica, franceses, espanhóis, então o desejo de Maquiavel é que a
Itália se torne uma República, um único Estado nação, no mesmo livro ele fala
sobre as coisas como elas são e não como gostaríamos que fosse, portanto define
política como ciência com objetividade, através de fatos históricos reais,
separa política de religião, o tripé: virtude, fortuna e força, são
respectivamente sapiência (sabedoria, inteligência...); sorte no sentido de
oportunidades; uso da força quando necessário, alguns interpretadores dizem que
ele escreveu o livro para o povo, outros dizem que foi para o governante
(príncipe), a expressão maquiavélico, vem de sua personalidade de escrita,
alguns os considera mal, foca no indivíduo, o homem para Maquiavel é mal por
natureza, a frase “os fins justificam os meios”, alguns interpretadores dizem
que foi Maquiavel que disse, eu compartilho que foi Napoleão Bonaparte e não
Maquiavel. Já neste caso, podemos citar a preocupação de Lowy, em definição,
isto é, conceituação de política para Maquiavel, por exemplo, é diferente do
conceito de política para Hanna Arendt, para ela política está entre os homens,
na pluralidade dos homens, de origem judaica, que sofreu com o nazismo de Adolf
Hitler, liberdade para ela, é de suma importância, porque neste caso ela não
podia falar, senão era metralhada pelos nazistas, portanto outro contexto
histórico, e outra definição, o filme “O Leitor”, mostra essa época e fala
sobre o que é obedecer a uma ordem, para Hanna Arendt devemos pensar antes de
obedecê-las, mas para o contexto histórico, o medo faz com que todos obedeçam
sem questionamentos, porque é a vida que está em jogo, falo em ciência política
também por saber este conhecimento fazer parte das ciências sociais, juntamente
com a sociologia e a antropologia.
O Direito outra
ciência social, foi na Idade Média modificada para Direito Canônico, já não
fazia efeito com o novo modo de produção, normas jurídicas do comportamento
social, que estabeleciam direitos e obrigações entre as partes da sociedade,
tiveram que ser transformadas. Para Marx, o Direito era uma ciência temporária,
visto que o Direito existia por causa do Estado, e conforme sua tese, o
capitalismo se evoluiria para o socialismo e depois para o comunismo, onde
haveria a ausência do Estado, e, portanto, a ausência do Direito. Para Karl
Marx o Estado era opressor e representava a classe dominante burguesa, para
Hegel o mesmo Estado era libertador. O Direito faz parte na teoria marxista da
superestrutura, fundamentada nas condições econômicas, portanto mudando-se a
infraestrutura (estrutura econômica) mudaria a superestrutura jurídica,
política, moral e simbólica da sociedade. Para Hegel a superestrutura que
governava a infraestrutura, para Marx, mesmo sendo um neo-hegeliano, mas
influenciado também pelas idéias de Ludwig Feuerbach chega à conclusão de quê é
a infraestrutura, as bases materiais que comandam a superestrutura (o campo das
idéias: direito, religião, política...), utiliza-se do método histórico para
chegar à tese do determinismo econômico, aqui se utiliza da dialética que é o
movimento: tese – antítese – síntese; quando temos uma tese, trabalha-se nesta
apresentando através de críticas sólidas uma antítese que criará uma síntese,
esta é a nova tese; na teoria marxista o modo de produção é responsável pelas
relações sociais, ela influencia a maneira de como a sociedade se relaciona,
Marx vê a sociedade como um todo, separa as classes sociais somente em duas
partes: os burgueses e o proletariado, para ele a força de trabalho é uma
mercadoria, então o homem vende a sua força de trabalho, o homem já não é mais
dono de si mesmo; para Adam Smith a força do trabalho produz a riqueza, no
livro riqueza das nações, para Karl Marx a mais valia, o lucro, é que produz a
riqueza e ela é principalmente acumulada pelo força do trabalho humano, tudo
que tem preço é mercadoria, portanto a força de trabalho humano é mercadoria e
seu preço e pago através de salário, para Adam Smith a mão invisível, ajeitavam
os desiquilíbrios no capitalismo, para Marx, não existe mão invisível e sim uma
regulação.
Os positivistas,
August Comte, Durkheim criticam os socialistas, por esse pensamento
materialista, para eles o importante é a ordem e o progresso, aqui a ciência
social, é objetiva, tem método e não há julgamento de valor, mesmo que seja o
próprio homem fazendo o estudo. Durkheim fala sobre o suicídio que ocorre
devido às questões sociais, apesar de apresentar resultados com reflexões sobre
países mais ricos onde ocorre maior índice de suicídio do que nos países
pobres, mas a questão não é material e sim moral. O fato social é a maneira de
agir, fixa ou não, porque a sociedade tanto pode ser de uma época, como pode
ser a sociedade dinâmica em transformação, o fato é exterior ao indivíduo, é
coercitivo e tem generalidade, o cientista social foca na sociedade como um
todo, o fato é coercitivo, mas ao mesmo tempo a sociedade deseja essa moral, e
é decidida pela maioria dos participantes da sociedade, neste trabalho fala
sobre a divisão social do trabalho, a solidariedade mecânica e orgânica.
Max Weber parte da
teoria do tipo ideal, foca no indivíduo, para Weber há uma questão valorativa
do cientista até mesmo na hora de se escolher um assunto a ser investigado, a
ele se deve os três tipos puros de dominação: legal, carismática e tradicional
e em cada uma define como será a forma de poder político. A estratificação
social em Weber é diferente de Marx, para Weber as classes sociais faz uma
distinção entre as três dimensões da sociedade: a ordem econômica, representada
pela classe, a ordem social, pelo status ou “estado”, e a ordem política, pelo
partido.
E se tivermos que
reconhecer os pensadores e clássicos através de suas correntes, seja ela
filosófica ou ideológica, não é uma tarefa simples, por exemplo, diferenciá-los
como liberais, iluministas, evolucionistas, progressistas, historicistas,
positivistas, socialistas, marxistas, naturalista entre outros, pode-nos
confundir, cria-nos confusão, assim como no conceito de ideologia e utopia em
Lowy, as ciências sociais, diferente das ciências exatas, onde podemos partir
de vários métodos, mas o resultado, a solução é a mesma; aqui nas ciências
sociais é diferente, bem mais difícil e trabalhoso, pois, podemos partir de
vários assuntos, teses e ainda chegaremos em uma infinidade de perguntas, e não
de soluções; os cientistas sociais contemporâneos fazem uma análise dos grupos
existentes na sociedade, fazendo o trabalho sem julgamento de valores, segundo
informações, hoje já não se preocupa como no século XVIII, XIX e XX em buscar
transformações, revoluções para melhor, mas tão somente em interpretar os
grupos.
Logo a “ideologia
total”, ou seja, a “visão social de mundo”, por Mannheim no texto de Lowy,
representa em minha opinião, ter determinação o suficiente para estudar,
investigar cada uma dessas correntes e também a preocupação em apreender dos
pensadores os conceitos que suas teorias apresentam como foi dito na sala de
aula, cuidado com a aparência, ir profundamente para buscar a essência do
trabalho, o todo X particular, tem que haver interesse pelo todo, mas com
objetividade e radicalidade tentar chegar ao particular, para não ficar na aparência,
e principalmente historicidade, é incrível como contexto histórico fala, grita
os que os pensadores querem dizer, antes de começar a estudar, situar o
pensador em seu contexto histórico.
Fim.
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